Por Anna Terra*
O silêncio também tem um grande valor na comunicação. É nas pausas que a gente processa o que foi dito, o que acabamos de ler, o que assistimos. Quando lemos um texto sem uma vírgula por longas linhas temos a sensação de faltar ar, de estar correndo. E no mundo acelerado das redes sociais, pulamos de um post para outro quase sem parar para refletir o que acabamos de ler. Não à toa, muitas vezes estamos em alta exaustão mental, porque não temos o silêncio, a ausência de palavras que se faz necessária.
Quando planejamos a comunicação de um perfil para as redes sociais, por exemplo, o ponto de partida de um calendário editorial são as datas de destaque daquele mês. Datas comemorativas, datas de luta, datas comerciais. E quando destacamos essas datas, muitas vezes é para que a gente saiba que talvez o ideal seja não compartilhar nada naquele dia, para que o post não se perca entre um alto volume de conteúdo que é previsto para as datas mais populares.
Acabamos de passar o Dia das Mães, que é a segunda maior data comercial do ano, só perdendo para o Natal, mas também é um dia de luta, um dia de homenagens pessoais. Por isso, aqui na Angola, escolhemos postar sobre o Dia das Mães na sexta-feira anterior a data, e não disputar o domingo com tantas homenagens que preencheram nosso feed de carinho, saudade e das mais diferentes expressões de amor.
Estamos acompanhando uma tragédia sem precedentes no Rio Grande do Sul, e falar disso agora pode parecer uma mudança brusca de assunto, mas não é. Acompanha aqui o raciocínio.
Diante de um desastre de grandes proporções, a comunicação é de suma importância. Para que as pessoas tomem conhecimento do acontecido, para solicitar ajuda, para atualizar os dados, para mobilizar a população. A comunicação é tão importante que sofre severos ataques, como estamos vendo agora no caso do RS, com alto índice de notícias falsas, as já conhecidas fake news, e desinformação pipocando, enquanto a população atingida não consegue acessar informações sobre para onde ir, o que fazer ou como acessar seus direitos.
Enquanto isso, veículos de imprensa, perfis influentes, organizações da sociedade civil e órgãos oficiais estão fazendo grandes esforços de mobilização através da comunicação, mesmo encontrando barreiras para chegar até quem mais precisa receber essas informações. E é por isso que acreditamos que nem todo mundo precisa criar um conteúdo novo todos os dias.
Calma, respira. Sabemos que pode parecer contraditório, mas esse é o momento de pausa para trabalhar a compreensão do que estamos falando.
Sim, cada perfil tem o seu público, a sua relação com seus seguidores e o seu jeito de falar com essas pessoas. E isso é muito valioso. É fundamental que influenciadoras e influenciadores que construíram a sua comunidade estejam agora prestando um serviço de utilidade pública utilizando o seu formato de conteúdo para pedir ajuda, informar sobre boas práticas nas doações e indicando formas seguras de contribuir. Mas nem todo mundo precisa criar um novo conteúdo para isso.
É possível repercutir e reforçar o conteúdo que já foi criado por outros perfis, ou fazer esforços de relacionamento mais direcionados. Por exemplo, pode ser mais eficiente pedir doações através de mensagens diretas para pessoas específicas do que publicando mais um post sobre isso no seu feed. Se você está se mobilizando na prática individualmente ou em grupo, também vale muito a pena mostrar o que está fazendo a título de estímulo e bom exemplo.
Se você acha que o seu conteúdo vai chegar onde nenhum outro chegou, ou que sua forma de falar pode contribuir para que mais pessoas compreendam sobre o assunto, então vá em frente! Não queremos desencorajar publicações em contextos como esse, muito pelo contrário, queremos encorajar que as publicações com conteúdo verdadeiro e atualizado cheguem para mais pessoas. E isso muitas vezes quer dizer não criar algo novo, e sim repercutir o que já vem sendo produzido.
O que você acha dessa reflexão? Faz sentido para você?
Nos diz pra gente continuar esse papo mais diretamente.
* Anna Terra é publicitária, consultora de comunicação e Coordenadora de Comunicação na Angola Comunicação.
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