Por Catarina de Angola
E quem acolhe os profissionais de comunicação? Como trabalhadora da área há quase duas décadas, atuando especialmente com comunicação institucional no terceiro setor, a sensação de ter que dar conta de muitas demandas sempre foi constante. Muitas vezes somos sozinhas, uma única pessoa tendo que dar conta de todas as tarefas que uma dinâmica de comunicação pode proporcionar. E naturalizou-se que sabemos gerenciar e fazer todos os trabalhos em comunicação, assim se fortalece a ideia de que as equipes desse setor devem ser pequenas.
Então, se você é profissional da área, te digo que sei exatamente como é ter que sozinha realizar trabalhos tão diversas, como relações públicas e assessoria de imprensa, audiovisual, fotografia, produção de campanhas, comunicação institucional, produção de conteúdo e gerenciamento de redes sociais, impulsionamento de anúncios, relação com influenciadores, planejamento, cobertura de eventos, criação e gestão de campanhas, design gráfico, editoração, revisão, jornalismo, entre tantas outras áreas. Vou nem começar a falar de comunicação para mobilização de recursos, porque é coisa que só, não é?
Sim, eu acredito que esse dinamismo nos possibilita muitas expertises, nos provoca a buscar mais conhecimentos, mas, muitas vezes, a que custo e em que condições? Com uma demanda tão gigante, como fazer uma comunicação estratégica? Eu avalio ser quase impossível. Sem o tempo para isso, a única coisa que fica é a sensação de que, apesar das muitas demandas e dos diversos produtos, que não estamos sendo assertivas, que não estamos criativas, que não temos resultados, que não damos conta. Ao final, temos, em muitos momentos, centenas de postagens e pouca interação; pilhas de materiais impressos, mas não distribuídos; campanhas construídas, mas sem alcance. Às vezes temos até o documento de planejamento, mas engavetado. Não dá tempo de distribuir o material e alimentar conversas sobre o que produzimos.
No final do ano, na avaliação dos trabalhos, temos toda a equipe da instituição afirmando que a equipe de comunicação precisa melhorar, que não é eficiente, que tem que chegar em melhores resultados. E o mais difícil: em geral não temos com quem compartilhar essas questões. Ou porque somos sozinhas ou porque somos uma equipe pequena, e muitas vezes porque a gestão institucional não está aberta e sensível a ouvir.
A pandemia da Covid-19 só aumentou essa sensação de esgotamento dos profissionais de comunicação, aprofundando esse cenário. Quem é da área sabe. Esse foi um período em que a comunicação foi essencial, afinal tudo era comunicação, já que as atividades presenciais não podiam ser realizadas. Nos sobrecarregamos, contribuímos para aceleração digital dentro das organizações, tudo virou uma live, um ebook, um seminário de oito horas na frente do computador. “Estávamos em casa”, tudo se misturava e o trabalho não tinha fim.
Mas não precisa ser sempre assim. Não deve ser sempre assim. Não pode ser sempre assim. Aqui deixo um recado para gestores e gestoras: é possível estar próximo da sua equipe de comunicação, ouví-la, elencar prioridades (não podemos estar em todos os canais e falar para todo mundo, mas com planejamento e estratégia é possível falar com muita gente). É possível também não deixar comunicação para última hora; é possível remunerar melhor, inclusive porque em geral somos profissionais com muitas habilidades; e muitas vezes não é a comunicação que deve ser cortada do orçamento dos projetos. Um bom acompanhamento dessa equipe gera melhores resultados e melhores condições de trabalho também.
Se você é profissional de comunicação e se sentiu tocada ou tocado por esse texto, responde pra gente. Essa é a sua realidade? Ou acredita que as coisas estão mudando?
A gente vai adorar ouvir vocês, e vamos continuar, por aqui, conversando mais sobre isso.
*Catarina de Angola é jornalista, idealizadora e diretora executiva da Angola Comunicação, com quase vinte anos de experiência em assessorias e gestão de comunicação no terceiro setor.
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