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A vida não se resume ao Instagram

Foto do escritor: Angola ComunicaçãoAngola Comunicação

Por Catarina de Angola*


Que existe vida fora do Instagram você também sabe, mas no segundo semestre de 2024 comecei a perceber que eu precisava repetir com mais frequência essa afirmação. Para colocar a reflexão em prática, comecei a limitar o meu tempo nessa rede social. Afinal, tinha constatado que chegava a usar o Instagram por mais de 5h diárias. Jogando assim essa informação no meio de um texto pode parecer pouco, mas imagina isso em um mês: 150 horas do meu tempo que poderiam ser usadas para qualquer outra coisa na vida, inclusive nada. O meu tempo de uso do smartphone, de forma geral, chegou a ser 13 horas diárias. Se eu fosse fazer qualquer outra atividade com esse tempo, somado aos últimos anos da minha vida eu já seria nível avançadíssimo. Então decidi ficar 30 dias fora da rede, entre final do ano passado e começo de 2025.


E por que eu trago essa reflexão tão pessoal aqui para a FUÁ? Em que provavelmente você abriu para ler buscando os melhores insights ou informações sobre como potencializar a comunicação do seu projeto, organização, empresa, ou até a sua comunicação pessoal? Porque também tive a certeza de que essa não é uma experiência individual, é coletiva. E também já refletimos aqui internamente na Angola Comunicação há muito tempo: a comunicação da sua iniciativa não deve se resumir ao Instagram, não pode mesmo. Esse é apenas um dos muitos canais de comunicação que existem na internet, porque foram dela ainda tem muito mais.


E tem muita gente, mas muita gente nos últimos tempos refletindo sobre isso. Mark Zuckerberg acendeu um alerta para essa reflexão no começo do ano, quando anunciou que a Meta não usaria mais verificadores de fatos independentes no Facebook e Instagram, argumentando que eram tendenciosos politicamente, O que, no atual contexto, escancarou um alinhamento a Donald Trump, que voltou ao governo dos EUA. A gente ainda vai refletir mais sobre isso aqui na FUÁ, que agora é semanal (o nosso lançamento de fevereiro).


Com certeza o trabalho é um dos motivos que também me faz usar o celular tantas horas do dia, o Instagram principalmente, e precisamos pensar em novas práticas de trabalho com relação a isso. Mas também porque esse espaço, assim como outras redes sociais, são construídas para segurarem a minha e a sua atenção por lá, e por isso que não é uma questão individual. Não vou deixar de gastar tanto tempo por lá apenas com uma decisão individual.


Foto: Helton Nóbrega
Foto: Helton Nóbrega

Uma das minhas primeiras percepções foi que, de fato, o Instagram tem concentrado informações e conteúdos de muitos estabelecimentos, serviços e organizações. Informações sobre filmes em cartazes em diversas salas de cinema, só no Instagram; dias e horários que abrem bares, restaurantes, barracas de praia, só no Instagram. Restaurantes que antes da pandemia tinham ótimos sites de delivery, desativaram, agora para saber as informações de entrega em 2025, só no Instagram.


Pensei muito sobre como estamos colocando nossas informações mais valiosas nesta rede social e como quando concentramos a comunicação em apenas um canal, excluímos talvez um público que se interessa pela nossa causa ou serviço, mas que não acessa simplesmente porque não colocamos em outro.


Com certeza estar com informação no Instagram é melhor do que não estar em canto nenhum, especialmente porque a Internet já faz mais do que parte das nossas vidas. E escolher em que canais estar é também uma estratégia para comunicar, melhor do que não comunicar nada. Mas se você tem estrutura para estar em mais de um canal, eu te sugiro fazer esse investimento.


A minha segunda percepção foi de que passei a consumir menos não estando no Instagram. Nenhuma necessidade de compra foi ativada, porque ninguém estava me falando o tempo todo sobre a tendência do momento ou sobre o melhor sapato para minha filha ou sobre o melhor suplemento alimentar. Nem estava a todo instante sendo bombardeada pelas propagandas patrocinadas por lá. Não comprei nada que não era essencial em janeiro, simplesmente porque eu estava fora do Instagram.


Foto: Benzoix no Freepik
Foto: Benzoix no Freepik

A terceira percepção foi de que não fui tomada pelo sentido de FOMO - Fear of missing out ou medo de perder algo. Sabe aquela sensação que a gente sente de ânsia por não conseguir acompanhar, e também fazer, tudo que acontece com todo mundo, pelo que elas compartilham nas redes? Pois é, nesse período de janeiro eu não senti. E aí percebi que não senti justamente porque eu não estava acompanhando nada por lá. Não me senti inferior porque não estava em uma viagem internacional ou não estava frequentando tal restaurante e, ao mesmo tempo, não causei isso em ninguém!


A quarta percepção, é que com o tempo eu fui registrando as coisas, situações e encontros para guardar e não para postar. Me pegava nos primeiros dias pensando: eita, isso seria legal de postar! Depois me dei conta que não estava registrando nada, automaticamente pensando que se não ia postar, para quê registrar? Mas eu gosto de memórias e não posso deixar o Instagram me moldar a esse ponto, não é? Então comecei a registrar para mim e fez uma grande diferença. Como está o acervo de memória da sua organização, e da sua vida?


A quinta percepção é que eu tinha que ir ao encontro e provocar conversas em outros espaços. Inclusive no presencial. Os amigos e amigas com quem eu mais interagia lá no Instagram fui reforçando a conversa em outros canais ou ativando elas. Sabe aquela mensagem para saber como a pessoa está? Ao invés de só achar que ela está bem porque postou um storie na praia? Pois é, percebi que precisava fazer isso, até porque pelo meu final de ano, sabia que foto feliz em rede social não diz nada.


Também comecei a pensar: então, o que a gente faz agora para comunicar nossas iniciativas? Pensando em diversificação, alcance e em baixo custo? Aí já vieram pesquisas, testes, trocas com a equipe por aqui. E isso tudo a gente vai partilhando no dia a dia do nosso trabalho.Vamos trazer mais reflexões para cá, mas se já quiser bater um papo, é só entrar em contato.


Foto: Freepik
Foto: Freepik

Mas com certeza a regulação das plataformas é um debate mais que urgente e necessário e essa conversa tem a ver comigo e com você, pois precisamos fazer parte dessa discussão coletivamente para construir caminhos saudáveis para todo mundo. O uso das redes sociais também precisa passar por uma questão de saúde pública. Eu percebi que preciso me cuidar. E sei que, especialmente, jovens e idosos têm sido muito atingidos por isso.


Além de como esses espaços têm sido utilizados pela extrema direita, pela disseminação dos discursos de ódio (agora com certeza mais fortes com a decisão da Meta), de como isso está impactando (no presente) nos nossos rumos políticos. 

A FUÁ semanal é um convite para refletirmos juntos e juntas sobre essas e outras questões. É um espaço para compartilharmos experiências, dúvidas e inquietações sobre o mundo digital e seus impactos na nossa vida.


Já é fevereiro, mas não custa desejar um feliz ano novo a você. Que seja de muita prosperidade, trabalho, mas também de presença!


*Catarina de Angola é mãe, jornalista, idealizadora e diretora executiva da Angola Comunicação, com experiência em assessorias e gestão de comunicação no terceiro setor.

 
 
 

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