Comunicar também é conectar histórias e conhecimentos
- Angola Comunicação
- 4 de jun.
- 2 min de leitura
por Catarina de Angola*
No último sábado, participei de um daqueles momentos em que o tempo parece se alargar para caber mais vida, mais memória e mais sentido. Foi no Recife, em Pernambuco, Nordeste do Brasil, no contexto do Conecta Latinas, encontro promovido pelo Instituto Update, que reuniu mulheres do Sul Global, da América Latina, Caribe e África, para criar pontes entre experiências, lutas e saberes. Fui convidada para mediar o lançamento de cinco livros de autoras negras latino-americanas, dentro da programação do evento.
Mais do que um lançamento literário, vivenciamos uma roda de muitas vivências e histórias. Histórias que foram por muito tempo silenciadas ou desautorizadas, mas que nós mulheres nunca deixamos de nos movimentarmos para que pudessem emergir com força, beleza e densidade política. Mulheres negras que escrevem não apenas para registrar o vivido, mas para reescrever o mundo. Porque escrever, para nós, é um gesto político, uma forma de sobrevivência e de reivindicação da nossa existência.


Durante a mediação, compartilhei reflexões que tenho cultivado há tempos, muitas delas expressas em histórias que já contei, há quase 20 anos, como a registrada no vídeo Roda de Fogo - Cidade Encantada ou nos em textos do nosso blog. Reforcei a necessidade do nosso direito à memória, negado sistematicamente às mulheres negras. Falei da escrita como gesto de ancestralidade e de futuro, como tecnologia de presença e resistência. Falei, sobretudo, sobre como essas narrativas constroem política: seja no cotidiano de uma comunidade, seja ocupando as estruturas da política institucional, seja nos afetos que nos conectam e movem.

Esse encontro nos lembrou que as palavras têm poder. Que contar a nossa história com as nossas próprias vozes é uma das formas mais revolucionárias de existir. E que quando nos reunimos, vindas de diferentes territórios, com diferentes sotaques, idiomas e trajetórias, também tecemos um grande documento coletivo que desafia fronteiras, colonialidades e silenciamentos.
Na Angola Comunicação, esse encontro ecoa profundamente com o que acreditamos e praticamos Entendemos a comunicação como um território em disputa, mas também de reexistência e de reinvenção do mundo. E seguimos comprometidas em fortalecer iniciativas como essa, que conectam, expandem e reencantam os caminhos possíveis da transformação social.
*Catarina de Angola é mãe, jornalista, idealizadora e diretora executiva da Angola Comunicação.
Commenti