Defender a democracia e desconcentrar poder, riquezas e conhecimento

Na semana passada, estivemos no 13° Congresso GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, realizado pela primeira vez fora do Sudeste. O evento aconteceu em Fortaleza, no Ceará, destacando a importância estratégica do Nordeste no cenário social e econômico brasileiro, com o tema: Desconcentrar Poder, Conhecimento e Riqueza.

Uma das falas que nortearam o evento foi trazida por Abigail Disney, filantropa, ativista e uma das herdeiras de Walt Disney, na sessão de abertura, que provocou quem tem o recurso nas mãos e chamando-os a essa responsabilidade.

“Principalmente nós, brancos e ricos, precisamos começar a nos fazer perguntas difíceis, e mudar a nossa forma de posicionamento para poder transformar o mundo”, pontuou.

Visivelmente esse foi um evento com mais diversidade em participação de mulheres e pessoas negras, mas as diversas provocações feitas nos fazem nos perguntar se quem realmente tem o poder de decisão para onde vai o dinheiro do investimento social privado estava lá e se estarão sensíveis a fazer mudanças em suas estruturas e formas de apoio desconcentrando de fato riquezas e poder e construindo processos mais equitativos.

O atual cenário político internacional também foi um tema central trazido em vários painéis e os debates ressaltaram a urgência de ampliar e consolidar a democracia. Destacou-se que, diante do avanço de discursos autoritários e do enfraquecimento financeiro das instituições, é papel do setor mobilizar recursos e conhecimento para fomentar práticas democráticas em todas as esferas da sociedade, promovendo espaços de escuta, participação cidadã e inclusão de vozes historicamente silenciadas.

O fortalecimento institucional das organizações da sociedade civil, e o desafio de garantir apoio financeiro que vá além de ações pontuais foi um dos temas que mais tocou as organizações presentes. Falar de estrutura institucional é falar de permanência, coerência e continuidade. Sem isso, não há como sustentar equipes, processos de gestão ou planos de longo prazo. E esse é um dos maiores desafios das organizações sociais, porque os recursos, em geral, estão para ações pontuais.

Nossa equipe presente no Congresso do GIFE: Catarina de Angola e Anna Terra

E a comunicação?

Central para o fortalecimento e desenvolvimento das organizações sociais, mas também para de fato promover processo de desconcentração, democracia e transformação social, a comunicação só esteve presente com centralidade em um dos painéis do GIFE e que foi um dos mais potentes.

“Apenas 2% do dinheiro da filantropia vai para comunicação”, esse foi um dado trazido por Ana Carolina Lourenço, do Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCC), mediadora da sessão sobre comunicação estratégica.

E é nesse cenário, que a comunicação segue sendo uma das áreas mais afetadas pela escassez de recursos. É justamente a comunicação que organiza e visibiliza as ações internas, fortalece o planejamento, conecta os times e alinha estratégias. Quando ela é integrada à gestão institucional, é possível construir narrativas consistentes, mostrar resultados, ampliar redes e atrair novos apoios. Além disso, a comunicação também fortalece os territórios, que é onde de fato as transformações acontecem.

Que o financiamento ao desenvolvimento institucional se torne prioridade. E que a comunicação seja reconhecida como parte fundamental dessa construção.

*Anna Terra é publicitária, pós-graduada em filosofia, se especializou nas áreas de planejamento estratégico de comunicação, produção de conteúdo e gerenciamento de projetos, e atua como coordenadora de comunicação na Angola Comunicação.

*Catarina de Angola é mãe, jornalista, idealizadora e diretora executiva da Angola Comunicação, com atuação em assessorias e gestão decomunicação no terceiro setor.